"Que surpresa este choro de novo, esta evidência que corta tudo por dentro, na sua solidão que julgava conformada, de que já não está, não está mais, não volta, por mais que sorrisse triste uma vingança no julgamento, por mais que o assassino apodreça na prisão. Por mais que, com o passar dos anos, se tenha convencido de que seria capaz de perdoar. Que já passou, que não adianta ruminar o assunto, que tem de continuar a vida. Julgamos, muitas vezes, que a dor já lá não há-de estar, confiantes no grande remédio que nos ensinam cura tudo. O tempo. E contudo há sempre um dia, um acontecimento, uma conversa, uma situação que observamos, ou esse tal objecto insignificante que reencontramos. E a serpente morde-nos outra vez os tendões."
Rodrigo Guedes de Carvalho, in "Canário"
Rodrigo Guedes de Carvalho, in "Canário"
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