Para irem sabendo de mim...

25 abril 2008

O riso

Tenho para mim que é o sentido de humor que dita as relações humanas. Afinidades e cumplicidades são talhadas pelo riso, ou melhor, pelo que o provoca. A intimidade constrói-se com o riso. Os meus amigos do peito riem-se muito, e eu rio-me muito com eles. Coisas tão insignificantes, tão mazinhas por vezes, tão inacreditavelmente engraçadas... É o historial de muitos risos que me faz querer chorar com eles.
Identifico o mesmo padrão no que respeita a namorados. Tudo o resto parece ter corrido mal, mas até ao fim, rimo-nos das mesmas coisas.
Aqui no sítio novo, ainda não tenho grandes amigos, é ainda muito cedo para tal. Aprecio-lhes para já o sentido de humor, que tem despoletado boas e recorrentes gargalhadas comuns.

21 abril 2008

Ando que me farto nesta cidade. Tenho uma dor no pé esquerdo e outra no joelho direito, mas em compensação a minha barriga diminui de dia para dia. As calças estão-me largas, o cinto precisa de mais um furo e, todas as manhãs, o espelho mostra-me um perfil lisinho. A este ritmo, daqui a uns tempos, a dita vai estar pronta para ser presenteada com um furo no umbigo.

19 abril 2008

Onze e meia, chego a casa. Música e vela acesa no meu quarto. Penso na semana: pcrs que funcionam mas depois desistem, o rodopio no laboratório, a lab meeting em que me senti parte da coisa, as marguaritas das post-docs, as pizas do jantar a acompanhar a conversa e o riso fácil do casal garcia. Os dias correm, eu absorvo tudo, não faço planos e sinto-me extraordinariamente calma.

16 abril 2008

Columbia St.

Não sei identificar o que tem a minha nova casa, mas gosto dela. O calor, o cheiro característico, as minhas mobílias acabadas de chegar, as marradinhas da Bell e da Gigi, a cumplicidade dos roommates. Percorro mentalmente o caminho até lá e apetece-me chegar.

14 abril 2008

Le mépris

Le Mépris ou Contempt na versão traduzida que fui ver numa sala que, presumo, vai passar a ser de frequência assídua. Sem dúvida um filme a rever ao longo da vida. Pela realização, pela Brigitte Bardot, pela fotografia, pelo texto, mas sobretudo porque, mais cedo ou mais tarde, e talvez de diferentes formas ao longo na vida, nos vamos rever nele. Se acaso o tivesse visto há uns tempos atrás, não acredito que tivesse gostado tanto.

12 abril 2008

Sábado

Tenho novamente bancada, arrumada claro, mas com ar de investigadora atarefada. Voltei às pipetas e aos tubos. Se dúvidas houvessem tirei as teimas: pipetar é como andar de bicicleta, não se lhe perde o jeito. Para arrumar já as saudades, o meu primeiro DNA de rato não se quis mostrar. Mais uma vez lembro-me da melhor lição que me ficou de um professor da FCUL: Persistência e resistência à decepção são qualidades fundamentais num investigador.
Agora troveja e eu vou para casa. Talvez logo haja mais uma sessão de riso internacional.

02 abril 2008

Pequenices

Gosto de coincidências, detalhes, pequenas ironias. Divirto-me com pequenas associações e procuro, por brincadeira, significados insignificantes. Escolho o dia das mentiras para a viagem.
Na primeira escala encontro no bolso do casaco um pequeno papel amarrotado. Leio o rabiscado:
iogurtes
requeijão
papel higiénico
abrilhantador máq. loiça
Localizo-o. Primeiro no espaço (requeijão= Portugal, abrilhantador= casa-que-já-foi-nossa), depois no tempo (há uma eternidade). Guardo-o de novo no bolso mas prometo deita-lo fora no primeiro caixote de lixo que encontrar.
Aterro no destino final e, ao contrário do previsto, sou recebida por uns amenos 16C.
Entretanto esqueço-me do papel. Vai para o lixo já em casa do Tiago.